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Reportagem revela a história de um piauiense que virou andarilho na USP

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A história do piauiense Herbert Williams Coutinho Melo foi revelada por uma reportagem do Jornal do Campus, publicação dos alunos do 4º semestre do curso de Jornalismo matutino da Universidade de São Paulo (USP). Natural de Teresina (PI), o ex-estudante da instituição virou um andarilho do campus. 

A reportagem de Mariane Roccelo conta que Herbert, apelidado de "Piauí", está na USP há três décadas e se tornou uma figura querida pela comunidade acadêmica, de quem recebe desde roupas até mesmo sua alimentação diária. 

Veja o texto na íntegra 

Famoso andarilho do campus, Piauí é antigo morador da USP
por  Mariane Roccelo 

Foto: Luiza Fernandes

Com os olhos semicerrados, na tentativa de driblar os problemas de visão, Herbert Williams Coutinho Melo, o Piauí, pesquisa, atentamente, o site da NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) no computador da biblioteca da Escola de Comunicações e Artes (ECA). O tema em questão é corriqueiro nos assuntos do famoso transeunte, conhecido por discursar aos ventos sobre política, repressão, galáxias e satélites.

Há quase 30 anos na USP, o andarilho foi ex-aluno de ciências sociais e ex-morador do bloco F do Crusp. Hoje passa seus dias passeando pela Universidade e conversando com quem estiver disposto a lhe dar atenção.

“Nasci em Teresina, e fiquei conhecido como nordestino aqui na USP”, afirma. Ao ser indagado sobre o que costuma acessar nos computadores das bibliotecas, Piauí responde: “Eu aciono os meus satélites inteligentes”.

Pouco se sabe das razões que fizeram com que ele perdesse o senso da realidade. Após ser internado algumas vezes a pedido da Universidade, Piauí se mostra irritado quando pergunto sobre as internações forçadas. O funcionário do sindicato dos trabalhadores da USP e amigo de Piauí, Marco Antonio Rodrigues afirma que “ele vive praticamente da ajuda da comunidade, dos estudantes”. Segundo Marco, Piauí leva uma vida tranquila e gosta muito de falar e ser ouvido, “a relação dele com o sindicato é muito próxima porque ele acaba fazendo a refeição aqui no sindicato, que é aberto às 7h da manhã. Ele já esta aqui esperando pelo cafézinho.”

Entre tantos assuntos e teorias mirabolantes, é possível perceber alguns momentos de lucidez. Em um desses momentos, pergunto sobre sua relação com os estudantes: “Eu gosto. Não tenho nada contra ninguém na USP. Sou o primeiro a evitar confusão no campus” diz. Apesar da aparente irritabilidade e das eventuais palavras agressivas, nunca houve problemas graves ou relatos de agressões por parte de Piauí. “Acho que justamente por ele não ter um senso de medida claro, ele, na interação com as pessoas, se torna inconveniente às vezes fazendo com que as pessoas se retirem ou peçam para que ele saia”, diz Marco Antonio.

Com mais de 60 anos de idade, Piauí se mostra incansável em suas caminhadas diárias. Sua presença é constante em algumas unidades dos cursos de humanas da USP, como a ECA e a FFLCH. Já morou no Crusp oficial e ilegalmente, e também no Canil da ECA – espaço estudantil onde aconteciam shows – antes de sua demolição. Toma banho no Sintusp, no Cepe, e veste roupas doadas pela comunidade uspiana. Piauí vive mais do que ninguém a vida na Universidade, sua presença constante o torna uma figura lendária e muito querida por toda a comunidade universitária.
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Tags: USPPiauí