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RJ: cinegrafista é homenageado em praia

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O corpo do cinegrafista Santiago Andrade, morto na segunda-feira (10) após ter sido atingido na última quinta (6) por um rojão durante um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio, começou a ser velado na manhã desta quinta-feira (13) no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária, onde também será cremado. O velório é aberto ao público e, após as 11h, a cerimônia deve prosseguir apenas para a família, até o meio-dia, horário marcado para a cremação.

Foto: Daniel Scelza/Futura Press/Estadão Conteúdo
A ONG Rio de Paz realiza uma homenagem ao cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade

Na praia de Copacabana, na Zona Sul, o movimento Rio de Paz estendeu uma cruz preta de 15 metros para homenagear o cinegrafista. Uma câmera com flores, uma faixa com a foto dele e uma mensagem também compunham o cenário.

No velório, vários jornalistas que conheciam Andrade chegaram ao local vestindo uma camisa com uma charge em homenagem ao profissional da TV Bandeirantes. Atrás, havia a frase: "Poderia ter sido um de nós".

Colegas de trabalho também relembraram os momentos de alegria e descontração do amigo. "Ele era um cinegrafista que gostava do jornalismo do cotidiano, do factual. Sempre foi muito cavalheiro, gentil, trabalhava de peito aberto e acompanhou meu crescimento na carreira desde o inicio", contou a apresentadora Mariana Rosadas.

A viúva de Santiago, Arlita Andrade chegou ao enterro por volta das 8h30 usando uma camisa do Flamengo, time do coração do cinegrafista, com uma homenagem nas costas. "Santiago sempre te amarei", faz alusão ao grito de guerra do time cantado pelas torcidas rubro-negras.

Foto: Guilherme Brito/G1

Viúva de Santiago Andrade, Arlita Andrade, chega ao velório do cinegrafista 

Andrade foi atingido na cabeça por um rojão quando registrava o confronto entre a Polícia Militar e manifestantes há uma semana na Central do Brasil, no Centro do Rio. Ele sofreu um afundamento do crânio, foi submetido a uma cirurgia e passou quatro dias internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Souza Aguiar. Na segunda-feira, teve morte cerebral, e a família decidiu doar os órgãos do cinegrafista.

Suspeitos presos

Desde o final da tarde de quarta-feira (12), Caio Silva de Souza, de 22 anos, está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste, onde deu entrada às 17h20. Antes disso, ele fez exames no Instituto Médico Legal (IML).

No mesmo complexo, já está preso Fábio Raposo, também de 22 anos, que confessou ter participado da ação e está preso desde domingo (9). Ele foi levado para a Penitenciária Bandeira Estampa.

Caio foi preso de madrugada em Feira de Santana (BA) e admitiu, em entrevista à repórter Bette Lucchese, da TV Globo, ter acendido um rojão durante a manifestação na última quinta. Em sua fala, obtida com exclusividade, o suspeito disse que não sabia que o objeto era um rojão, e pensou que fosse um "cabeção de nego", artefato que só provoca fumaça e barulho, mas não tem efeito pirotécnico.

Repórter: Você acendeu o rojão?
Caio: Se eu acendi? Acendi, sim.
Repórter: Junto com o Fábio?
Caio: (balança a cabeça positivamente)
Repórter: Você tinha um alvo específico?
Caio: Não. Nem sabia que aquilo era um rojão.
Repórter: Pensou que fosse o quê?
Caio: Um cabeção de nego.

Aos policiais que o prenderam, no entanto, Caio não admitiu nem negou nada. Segundo o delegado Maurício Luciano de Almeida e Silva, o suspeito deixou claro na Bahia, ao ser preso, que não falaria sobre o fato.

"Não admitiu nem negou nada que lhe é atribuído. [...] Ele não está antecipando nenhuma informação. Imagino que está esperando uma estratégia do advogado e falará no momento oportuno", afirmou.

Caio, que é auxiliar de serviços gerais de um hospital no Rio, não esboçou reação ao ser preso em uma pensão.

A polícia esclareceu detalhes da prisão em entrevista coletiva e disse que o suspeito "estava acuado, assustado, com muita fome, após dois dias sem se alimentar". Ele ainda não tinha dormido e estava em um quarto pequeno.

Na entrevista à repórter da TV Globo, Caio disse também que, depois da veiculação das imagens em que apareceria recebendo o rojão, ele teve medo de ser morto por "pessoas envolvidas nas manifestações".

Repórter: Quando você viu a imagem, você sabia que era você?
Caio: Não. Não me mostraram.
Repórter: Mas depois, quando começaram a mostrar?
Caio: Eu fiquei com medo de me matarem. A verdade é essa.
Repórter: Quem poderia te matar?
Caio: Pessoas envolvidas nas manifestações.

O suspeito preso ainda pediu desculpas pela "morte de um trabalhador, como ele próprio, sua mãe e seu pai". Na conversa, que foi ao ar no RJTV de quarta-feira, Caio disse que há jovens atraídos por terceiros para participarem de protestos.

"Alguns vão aliciados, sim, outros não". Questionado sobre quem seriam os aliciadores, ele não deu detalhes. "Isso eu não sei dizer à senhora. A polícia tem que investigar." O suspeito afirmou que políticos poderiam estar envolvidos.

Mulher desabafa

A mulher do cinegrafista, Arlita Andrade, fez um desabafo no domingo (9), em entrevista exclusiva à TV Globo, e disse que "falta amor" às pessoas responsáveis por ferir gravemente seu marido. A declaração foi dada antes da divulgação da morte cerebral dele.
"Eles destruíram uma família. Uma família que era unida, muito unida mesmo", lamentou Arlita. Além da mulher, Andrade deixa uma filha e três enteados.

Dois prêmios recebidos

Espirituoso, homem de riso fácil e dedicado à profissão. Essa é a forma como colegas de trabalho da Bandeirantes definem o cinegrafista. Experiente, ele trabalhava há 10 anos na emissora, onde participou de diversas reportagens sobre as dificuldades enfrentadas pelos usuários de transporte público na cidade. A cobertura jornalística do tema – que motivou o início dos protestos no Rio em 2013, após o anúncio do reajuste da tarifa de ônibus – lhe rendeu dois prêmios sobre Mobilidade Urbana, em 2010 e 2012, ao lado do repórter Alexandre Tortoriello.

Desde 2013, Andrade registrou para a TV Bandeirantes diversas manifestações na cidade e estava escalado para participar da cobertura jornalística da Copa do Mundo, entre junho e julho.

Além disso, o cinegrafista participou de grandes coberturas, eventos esportivos e várias reportagens sobre a "guerra" contra o tráfico de drogas nos morros cariocas. No final de 2013, Andrade participou do curso para jornalistas em áreas de conflito ministrado pelo Exército.

O cinegrafista também atuou na área de cultura. Em 2012 e 2013, foi convidado para fazer reportagens, ao lado da repórter Camila Grecco, sobre o carnaval de San Luis, na Argentina.

Carioca, criado em Copacabana, na Zona Sul do Rio, Andrade tinha outras duas paixões, além do jornalismo: o Flamengo, seu time de coração, e a música. Aficionado por discos, ele falava com orgulho da época em que foi DJ.


Fonte: G1
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