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29/04/24

Enzo Samuel ou Samuel Alencar: disputa por quem será o mais votado em Teresina?

Não importa quantos votos um vereador obteve nas urnas, ele terá direito ao gabinete, o salário, o voto e a voz no plenário da Câmara de Vereadores, igualmente aos demais eleitos como ele. Isso é a teoria. A coluna tem uma mania terrível de preferir viver no mundo real, ao invés de se apegar às fantasias. Ser o mais votado é sinônimo de força eleitoral, capilaridade, alcance e expressão no seio da sociedade, desde Roma – e assim continuará sendo. Dessa forma, uma disputa velada (pero no mucho) se impõe em Teresina: o presidente da Câmara, Enzo Samuel (PDT), será o mais votado, ou o filho do ex-presidente da Câmara, Jeová Alencar (Republicanos), o jovem estudante de Medicina, Samuel Alencar (União Brasil), levará essa? São os mais cotados, é verdade, mas política sem surpresa, não é política... Haverá um(a) desafiante?

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Estourado

E o que é ser um vereador “bem votado” em Teresina? Bom, para começo de conversa, estamos falando de dois dígitos: mais de dez mil votos. Isso é ser uma figura política excepcional. E essa excepcionalidade se reverte em visibilidade, que depois se transforma em voos mais altos. No caso de Jeová Alencar, duas vezes o vereador mais votado da capital, e um deputado estadual eleito com 28 mil mil votos só em Teresina (e 44 mil no total), significou seu passe de entrada para disputar a eleição para a Assembleia Legislativa. Ora, quem não quer deixar de ser vereador para ser deputado? O mundo é uma pirâmide e no espaço de cima, cabem poucos, cada vez menos...

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Dois mandatos

É esse o capital eleitoral de Jeová que estará sendo transferido ao filho – e também, em partes, à companheira, a vereadora Thanandra Sarapatinhas (Republicanos). Thanandra foi uma outsider, eleita sem estrutura e de modo surpreendente em 2020. Nem conhecia Jeová na época. Hoje, pela ligação pessoal entre ambos, que terão uma filha, o mundo político considera que a vitória de Thanandra correlaciona-se com a força de Jeová. Afinal, são é um mandato a mais (ou a menos) no mesmo grupo político.

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Enzo: como mostrar força?

No caso de Enzo, a questão que se impõe é a mesma. Nos bastidores, comenta-se que o presidente da Câmara deve buscar a reeleição na presidência (caso Fábio Novo seja eleito prefeito de Teresina pelo PT, claro) e, em 2026, deixar o mandato para disputar o cargo de deputado estadual (provalmente pelo PT). Assim, a suplência do PDT não deixou de ser um fator importante na formação das chapas proporcionais. Enzo foi eleito pela primeira vez no PC do B, mas aproximou-se do então prefeito Firmino Filho (PSDB) e migrou para o PDT, onde está desde então. 

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Não custa nada perguntar

Apresentado o cenário, as perguntas são essas: Enzo terá o apoio do Governo para e empreitada de superar Jeová Alencar e enfraquecer um adversário político direto do seu grupo? Não custa lembrar que Enzo foi eleito presidente da Câmara com o apoio de Jeová em 2022... Quais pastas estaduais irão votar com o presidente da Câmara? Ou esse é um desafio pessoal, que o próprio Enzo terá que enfrentar e cobrir a fatura (figurativamente, ou não)? E Jeová Alencar: dará a força necessária para eleição de dois vereadores? Conseguirá combinar os votos majoritários de Sílvio Mendes (União Brasil) e do filho, colando as campanhas como ocorreu quando foi eleito vereador próximo a Firmino Filho e, em seguida, ao atual prefeito Dr.Pessoa? Por hoje, o leitor já sabe: só perguntas. 

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Como se combate um adversário – no discurso

Algumas regrinhas básicas de uma boa disputa argumentativa em qualquer tipo de eleição é: nunca discuta racionalmente os argumentos do campo inimigo. Ora, se você fizer isso, entrará na linguagem e na lógica do adversário. É preciso agir de maneira contrária: desconsiderar o conteúdo lógico que parte do lado oposto.  

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Fatos e ataques: como usá-los

Só há dois tipos de réplica possíveis: 1) exponha um fato (foto, vídeo, etc) que contradiga por si o que o seu inimigo político está falando ou 2) ataque aos pontos fracos – o que só deve ser feito pelo candidato desafiante. O que lidera, de preferência, não pode atacar. Os dois lados trabalham para que prevaleça um clima psicológico de força e impressão de serem unânimes. 

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Um contra um

Esqueça a briga entre chapas proporcionais. A questão é a briga dentro das chapas. O negócio é X1 na eleição municipal no Piauí. Para quem não sabe – e a colunista não sabia até ontem – essa é a modalidade de futebol society que consiste em equipes formadas por um jogador e um goleiro. Um contra um. Chapas como a do PL (a estrutura do vereador Luís André ou a força da Medicina de Leonardo Eulálio?) e do Republicanos em Teresina (o voto da igreja com Ana Fidelis ou o vigor da causa animal e do apoio do deputado Jeová Alencar à Thanandra Sarapatinhas?).

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Se conselho fosse bom

“Nenhum profeta é aceito em sua cidade natal”. Lucas 4:24. É doloroso constatar, mas a partir do momento em que você cresce, deixa atrás de si uma série de frustrados, invejosos e infelizes que não aceitam um simples fato: mesmo vindo mesmo lugar que eles - mas por méritos que você tem e eles não - hoje você encontra-se numa posição privilegiada. Não se iluda com os tapinhas nas costas e as exclamações sobre o quanto estão felizes por você. A verdade é que seu sucesso inspirará alguns poucos, que lhe admiram de verdade, mas deixará amargamente claro aos demais que eles fracassaram. A morte acontece quando seu coração para de bater ou quando as pessoas param de falar de você. Aceite o preço por destoar.

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Cifrada das Excelências

Em uma eleição concorrida (que não é a eleição municipal), o jogo segue embaçado. O candidato que tem a confiança do cabeça, sofre algumas resistências. Com o grupo dividido, um professor tenta unir as pontas, mas precisa ser mais assertivo. Uma mulher poderia surpreender? Sim, se o mundo não rodasse para manter o status quo (o que não é o caso agora, quem sabe daqui há 100 anos?). O adversário, conhecido por preferir jogar no ataque, surfará no aparente caos no lado dos inimigos? Articuladores ocultos medem os passos e antecipam, com visão de raio-X, as próximas jogadas. Imprevisível, no mínimo. 

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Foto do dia

A coluna não recomenda que se desobedeça a lei. Aliás, a coluna recomenda enfaticamente o cumprimento da legislação vigente, inclusive no trânsito. No entanto, um político que é leitor da coluna, fez um flagra tão interessante enquanto dirigia que a colunista não teve opção a não ser publicar a imagem. A foto do dia é a traseira de um carro circulando em Teresina com dois adesivos: o que leva o nome de Roncalli Filho, o Roncallinho (pré-candidato a vereador da capital pelo PRD, sigla do prefeito Dr.Pessoa) e o do pré-candidato do PT a prefeito, Fábio Novo. Roncallinho é apoiado pela primeira-dama da cidade, Samara Conceição. Resumo da ópera: o eleitor é soberano e faz as suas próprias combinações de voto, não tem jeito. 

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A frase para pensar

É mais fácil alugar um deputado que discutir um projeto de governo. Quem é pago não pensa”, Roberto Jefferson (1953-), político, na entrevista que gerou a crise do mensalão em 6 de junho de 2005. 

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Música da semana

Composição de Arnaldo Antunes e Marisa Monte, a música “Não Vá Embora”, na voz do cantor Silva, é demais. O Eu Lírico, autor de onde brotam os sentimentos cantados, tenta convencer o objeto amado a ficar ao seu lado... Obviamente, mera coincidência entre partidos e pré-candidatos pequenos das chapas, chapinhas e chaponas de vereador em meio ao leilão de ofertas pela desistência. Na floresta, vence o mais forte ou o mais esperto?

“Eu podia ficar feio, só, perdido

Mas com você eu fico muito mais bonito

Mais esperto

E podia estar tudo agora dando errado pra mim

Mas com você dá certo

Por isso não vá embora

Por isso não me deixe nunca, nunca mais”...

 

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