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Suriname: garimpeiros acreditam que piauienses foram mortos no Natal

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Imagens de como estaria a região do Suriname onde ocorreu o massacre

"Não aguentei o inferno". Foi assim que N.S.L., maranhense, de 24 anos, ex-presidiário, se referiu às matas do Suriname onde foi buscar a sorte no garimpo do ouro em companhia de mais de uma dúzia de piauienses e paraenses, todos clandestinos. 

O ex-garimpeiro teme que piauienses podem ter sido assassinados na noite de Natal, no conflito entre surinameses e brasileiros que deixou 81 pessoas feridas e, especula-se, várias pessoas mortas. "Eu voltei do Suriname dois meses antes, vi tudo pela televisão e tenho certeza que muita gente morreu", lamenta o ex-garimpeiro que assegura que conheceu várias pessoas do Piauí nos acampamentos do garimpo nas matas fechadas próximas a Albina, região onde se deu o conflito, distante 150 quilômetros da capital Paramaribo.

N.S.L. é enfático ao rememorar a rivalidade existente entre os "marrons" e os brasileiros. "Tinha muita briga, muito medo, a gente sempre andava em grupo quando saia do acampamento e ia procurar alguma coisa na cidade, era muito assalto. Se um 'caísse' (fosse capturado) com ouro, era morte na certa", diz NSL.

O ex-garimpeiro afirma que não há fiscalização que possa conter a chegada dos brasileiros ao local e a clandesnidade é uma das características daquele mundo hostil. "Tem gente que chegava lá vindo do corte de cana de São Paulo, quando acabava a safra pegava dinheiro e ia procurar garimpo. Muitos nordestinos, gente de todo lugar, conheci seis do Piauí, que não tinham nem documento. Um outro mais velho que dizia ter aprendido (a garimpar) na Serra Pelada", afirma.



N.S.L. não tem dúvidas de que pela quantidade de piauienses que conheceu alguns foram feridos ou mesmo mortos no conflito na cidade de Albina. "Quem vai pra lá é quem não tem nada, quem já está desgraçado. Conheci muita gente daqui, sem documento, sem família, sem esperança de nada. Atravessa todo mundo de barco, sem fiscalização, sai do Brasil pagando barco e só volta quando Deus permitir", desabafa, explicando que voltou graças ao apoio da família. "Tinha pouco dinheiro e voltei porque não dava para mim aquela vida", diz.

Ele teme que os colegas que conheceu na região amazônica do Suriname ou estejam feridos, desaparecidos ou mortos. "No garimpo ou a gente se une ou está morto. E com o que aconteceu lá,certeza que perdi alguém do pessoal", desabafa.

Até agora as autoridades diplomáticas do Brasil no Suriname não confirmam nenhuma morte, mas são muitos os relatos de brasileiros que viram colegas serem assassinados com requintes de crueldade no massacre de Albina, na noite de natal.


FAB atende um dos brasileiros feridos no massacre do Suriname 

Piauienses se aventuram para garimpar ouro e diamantes
O piauiense, Antonio de Miranda Lisboa, sócio da Cooperativa dos Garimpeiros da Serra Pelada, também assegura:  muitos são os piauienses que trabalham ilegalmente no garimpo na região norte do Brasil e se aventuram na extração do ouro no Suriname e na Guiana inglesa e na extração do diamante na Venezuela. "Eles entram ilegalemente em barcos clandestinos, por aviões fretados em pistas ilegais, mas a maioria, sem dinheiro, segue na "varação".

"Varação" é a expressão utilizada para quem vai atravessar a fronteira do Suriname "furando" a mata, depois de dias de caminhada exaustiva Amazônia a dentro. "Eles (no Suriname) não levam documentos, não levam nada que identifiquem. É outro mundo. É só a mata e o equipamento. "Conheci muitos piauienses que iam para lá, é uma região que abriga muita gente daqui, do Maranhão, do Pará, de Roraima", explica o também ex-garimpeiro Antônio Miranda. Questionado sobre a possibilidade de piauienses terem sido feridos ou mortos naquela região Amazônica na noite de 25 de Dezembro, Miranda sentencia: "é muito provável", diz. "Muita gente morreu, quem está ilegal no garimpo num lugar daqueles morre sem que se tenha notícia, é gente clandestina, degredada", afirma.

Antônio Miranda lembra que legalizados, na Serra Pelada, são 45.700 garimpeiros, e que a quantidade de ilegais é muito maior em todo o país. Em Teresina, uma sede da cooperativa será aberta, no dia 31 de janeiro.



Padre revela facilidade para chegar ao Suriname
O padre Deusamado Carmo, também piauiense, trabalha há quase duas décadas na região da Amazônia, no Estado do Pará, convive com os conflitos entre madeireiros, garimpeiros e indígenas naquela região e sabe que é muito fácil sair do país em direção aos garimpos ilegais do Suriname. "De Belém e outras cidades do Pará partem barcos com destino aqueles países como Suriname e as Guianas, não se paga mais do que R$ 300 reais para atravessar a fronteira", diz o Padre que acrescenta que a pobreza extrema atrai muitos maranhenses, piauiense e paraenses aos garimpos ilegais fora do país. "É uma triste realidade", afirma.


Repatriados pela Força Aérea Brasileira dentro do avião

A Embaixada do Brasil no Suriname divulgou na última quarta-feira, 30, a lista de brasileiros que estavam na região do conflito em Albina  no natal, quando descendentes de quilombolas surinameses atacaram brasileiros que lá residem.

A noite de horrores, onde cerca de quatrocentos quilombolas atacaram, agrediram, estrupraram brasileiros deixou muitas perguntas sem resposta. Por mais que as autoridades daquele país neguem, todos os que lá estiveram tem certeza que pessoas foram mortas e jogadas em leitos de rios, mas até agora nenhum corpo foi encontrado.

Iury Campelo, Especial para o Cidadeverde.com
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