Domingos Pereira da Silva dos Santos não é mais vigia, apesar de tentar. Em entrevista à TV Cidade Verde, o vigilante que dava plantão na obra onde a estudante Fernanda Lages foi achada morta em agosto de 2011 revelou um drama familiar. Desde a humilhação sofrida pela família a até a dificuldade para achar emprego. Evangélico, em meio a suas orações, ele pede que quem o acusou durante as investigações peça perdão a Deus. Sobre o caso, manteve a versão na qual apenas uma pessoa teria entrado no canteiro de obras.

"Quero pedir a essas pessoas que reconheçam e acreditem em Deus e reflitam e se arrependam do que disseram, do que falaram mal de mim. Me chamaram de mentiroso. Peço que essas pessoas se arrependam e peçam perdão a Deus", disse o vigia, que montou uma quitanda na sala de casa, na zona Norte de Teresina, para garantir o sustento. "Eu deixo currículo lá no setor da firma e só fazem dizer que vão chamar, vão chamar, vão chamar e nunca chamam".

O vigia reclama de insinuações de que teria participado do suposto homicídio de Fernanda, além de ter sido acusado de omitir informações e aceitar dinheiro para ficar calado, o que contrasta com a situação de sua casa. "Eu entrego para Deus. Que ele faça justiça com essas pessoas que pensaram e falaram isso de mim".

Entre as declarações estão a de parentes de Fernanda Lages, inseridos nas orações de dona Francisca Santos, esposa de Domingos. "O que eu tenho de dizer para essas pessoas que julgam ele, principalmente Cassandra Lages (tia de Fernanda), é que eu não tenho raiva dela, não tenho ódio dela. Eu tenho muito amor por ela porque tenho Cristo no coração", declarou a evangélica, acrescentando que os familiares da jovem devem "pedir perdão não ao meu esposo, mas a Deus".

A família de Domingos, segundo o vigilante, parece ter sido a mais afetada com a repercussão da morte da estudante. Ele conta que uma filha passou mal e chegou a ser internada. Outra abandonou a escola por conta dos comentários maldosos. "Meu pai é um velho de 82 anos. Ele ficou muito sentido", acrescentou o vigia. "A nossa vida está totalmente diferente porque ninguém pode andar no Centro", reforça a esposa, sobre os olhares diferentes da população.

Domingos chegou a ser preso pela Polícia Civil e libertado dias depois. Ele sustenta a versão de que somente uma pessoa entrou na obra. "Eu estava sentado, como eu já declarei várias vezes, quando a pessoa chegou. (...) Quando eu vi o portão se abrir e a pessoa tirou a corrente do preto e passou pelo lado de dentro, colocou a corrente no mesmo local e saiu em direção a outra obra. Eu fiquei só olhando", contou o vigia. "Eu fiquei foi com medo, não sabia o que estava acontecendo, não estava esperando ninguém. O coração bateu forte. Eu nunca pensei que ia acontecer o que aconteceu. Por duas vezes ela olhou pra mim e apressou o passo".

Fernanda Lages foi encontrada morta no início da manhã de 25 de agosto de 2011. O caso foi transferido da Polícia Civil para a Polícia Federal após várias polêmicas envolvendo cobranças do Ministério Público. Há expectativa de que a PF conclua o inquérito este mês, mas agentes ainda fazem diligências sobre o caso.